segunda-feira, 11 de junho de 2007

Aspectos Econômicos

Farmácia em Minas Quase 12 mil farmacêuticos, 8.333 farmácias e drogarias, 1.560 laboratórios, 52 indústrias, 65 cursos de graduação. Pelos números, pode-se ter uma idéia de como está estruturado o mercado farmacêutico em Minas Gerais. Limitar-se a eles, no entanto, é correr o risco de cair em uma análise superficial e insuficiente, diante da complexidade do mercado. Com o objetivo de traçar um panorama da profissão no Estado, a FARMÁCIA REVISTA convidou estudantes, farmacêuticos, professores e representantes das entidades ligadas à profissão para discutir temas como ensino, remuneração, perspectivas e reconhecimento profissional. O farmacêutico Geraldo Lúcio de Resende, de Três Corações, é um exemplo da tradição que acompanha o curso de Farmácia. Formado em 1962, ele conta que fez faculdade para assumir o negócio da família e, desde então, se dedica ao estabelecimento em tempo integral. Se no passado escolher esta profissão era sinônimo de “abrir uma farmácia”, hoje há várias outras opções. Muitos ainda optam por montar seu próprio negócio, como a farmacêutica Adriana Cenachi, que se formou em 1993. “Sempre tive vontade de ter uma farmácia aqui em Carangola. Fiz cursos de especialização em Homeopatia e Cosmetologia, e hoje passo o dia todo na farmácia”, conta. Outros, como o estudante Alesandro Marangon, investem na formação, fazem cursos no exterior e desejam atuar na área industrial, tecnológica, de cosméticos e pesquisa. Alesandro está atualmente na Alemanha, onde faz estágio na Across Barriers GmbH, indústria que desenvolve serviços e tecnologias nas áreas farmacêutica, química e de cosméticos. “É uma ótima oportunidade de experimentar a rotina de trabalho em uma indústria de grande porte e ganhar experiência. Acredito que estarei muito mais preparado para enfrentar o mercado de trabalho”, afirma. Mas o que Alessandro terá pela frente quando voltar ao Brasil? Mercado “O mercado está muito ruim. Sempre trabalhei na farmácia e deu tudo certo, mas agora... As vendas caíram, a concorrência é grande, tem farmácia que consegue vender medicamento a preço de custo. Eu não entendo”, desabafa o farmacêutico Geraldo Lúcio de Resende, de Três Corações, há 54 anos no mercado. Para Elias Bistene Filho, de Belo Horizonte, a situação do mercado é realmente complicada. Formado em 1973, já atuou em pesquisa, laboratório e hospital. Há 23 anos trabalha em dispensação, área que considera a mais gratificante e que mais contribui para solidificar a figura do farmacêutico como agente da saúde. No entanto, ele lembra que muitas farmácias atualmente estão nas mãos de leigos, que não entendem propriamente da área e estão interessados apenas no comércio. Minas Gerais possui hoje 2.870 farmácias e drogarias de propriedade de farmacêuticos, contra 4.003 que são de proprietários leigos. Segundo Geraldo Lúcio de Resende, a concorrência com as grandes redes é difícil, em função da quantidade de descontos e promoções. “Pela legislação, não há como impedir. A farmácia hoje, infelizmente, está mais voltada ao bom desempenho nas vendas”, lamenta. Para Ângela Caldas, vice-presidente do CRFMG, além do inerente aspecto comercial, as farmácias e drogarias precisam ser resgatadas como estabelecimentos de saúde. Outro fator que agrava a situação do mercado são os salários abaixo do piso, que atualmente é de R$ 2.029,00 para a jornada de 40 horas semanais. “O Sinfarmig tem conquistado, nos últimos anos, avanços expressivos, principalmente em relação aos salários. No entanto, os próprios profissionais desvalorizam a profissão quando aceitam trabalhar por valores menores que o estabelecido”, afirma Rilke Novato, presidente da entidade. Os farmacêuticos, por sua vez, alegam que muitas vezes é difícil recusar uma oferta de emprego, mesmo que não pague o piso inicial. “No sul de Minas Gerais, por exemplo, as oportunidades de emprego são limitadas, devido à grande quantidade de profissionais presentes nessa região, o mercado não comporta”, conta Rafael Moreira Reis, bioquímico do laboratório da Prefeitura do Município Três Pontas. Em contra partida, Ângela Vieira, conselheira Federal do CRFMG, acredita que o aumento do número do número de farmacêuticos contribui para o enriquecimento do mercado e gera uma seleção “natural” dos melhores profissionais. "A concorrência força os profissionais à buscar alternativas, investir em especializações e se manter atualizados. Consequentemente, a população recebe serviços de maior qualidade”, afirma. Ela lembra que o equilíbrio emocional e as relações interpessoais também contam pontos na hora de conquistar espaço, e que a grande oferta de mão-de-obra qualificada, principalmente nas capitais, gera um processo benéfico de interiorização dos farmacêuticos. “Esse é outro aspecto positivo, já que em muitas cidades temos carência de profissionais”, ressalta. Oportunidades também se ampliamSe por um lado o mercado parece desanimador e saturado, por outro os próprios profissionais apontam saídas e oportunidades. Rafael Moreira chama a atenção para as ações realizadas em benefício da saúde pública, como a implementação da Farmácia Popular, e a atualização das leis referentes à profissão estabelecidas recentemente. “É um mercado que está em alta, devido às atenções governamentais. De qualquer forma, em âmbito geral acho que o mercado nunca foi ruim, ao se levar em conta as necessidades do país”, afirma. A farmacêutica Adriana Pereira, secretária geral do CRFMG, também vê boas perspectivas, apesar da difícil situação atual. “O mercado ainda não foi devidamente preenchido. A assistência farmacêutica e o sistema público de saúde são áreas em potencial”, acredita. Outro fator favorável levantado pela farmacêutica é a criação da portaria 698 pelo Ministério da Saúde, que devidamente implantada e regulamentada, irá liberar recursos para os municípios investirem na contratação de farmacêuticos.

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